Conheci a obra do José Luís Peixoto há poucos anos, através de uma amiga. Me apaixonei quase que instantaneamente, seus livros são lindos demais. Português, cheio de emoção, li Cemitério de Pianos e Nenhum Olhar, dois daqueles livros que entraram pros meus preferidos da vida. São livros pesados, daqueles que te fazem mergulhar nos personagens, mesmo sem querer.
Em abril do ano passado Peixoto lançou seu primeiro livro infantil, “A Mãe que Chovia”. O lançamento foi grande em Portugal, o escritor anda em destaque por lá. Tive sorte, eu estava em Lisboa bem na época, e trouxe uma cópia para mim e para o Francisco. Li pela primeira vez lá mesmo, logo depois de comprá-lo, sentada em um cantinho do Chiado (ui, que chique!). Morri de chorar. PENSA: longe do Francisco e morrendo de saudade, lendo um livro sobre maternidade e ausência. Não tinha outro jeito.
O livro trata do assunto de um jeito lindo. É a história de um menino que é filho da chuva. Os dois têm uma linda relação, mas todos os anos a mãe tem que partir, chover em outos lugares do mundo:
“A mãe explicava-lhe que, no mundo inteiro, só ela é que sabia chover.
Era por isso que viajava tanto.
No verão, tinha de ir chover em países distantes
Longe, sentia saudades do filho e algumas das gotas que chovia eram lágrimas.
O rapaz também ficava triste. Sentia muita falta da mãe.
Angustiado pela ausência dela, e crescendo, já adolescente, ele começa a se afastar da mãe. Um dia diz que já não acredita nela. A mãe fica triste demais, e nessa noite ela neva. O menino então pede à mãe que fique. Ela fica, mas o verão queixa-se ao vento e pede que ele a mande embora. Ela vai – quando volta, não encontra mais o filho. Ah, eu não vou contar o fim, vai. É spoiler demais da minha parte.
Mas me sinto obrigada a compartilhar um trechinho do final, na voz do filho:
“Mesmo quando estou onde não podes estar, mesmo quandoe estás onde não posso estar, sabemos bem o tamanho dessa certeza que nos une. Eu tenho a certeza de ti, tu tens a certeza de mim. Amor, essa palavra. Mãe, choves essa palavra dentro de mim. Agradeço o milagre que me deste, me dás e que permanece sempre comigo. (…) Agradeço-te com amor, tenho orgulho de ti com amor, sou feito de ti com amor. És minha mãe inteira e sou seu filho inteiro.”
Arrepiou?
Enfim, é um livro que trata de um assunto complicado, com uma linguagem bem densa. É cheio de poesia, coisa linda. Também têm ilustrações lindas, de Daniel Silvestre da Silva – mas são mais escuras, com poucas cores, quase tristes. Acompanham a história, que oras, é triste, mas não por isso menos bonita. É um livro pra crianças mais velhas e também para adultos. Mas não pensem que não leio a história para o Francisco não: volta e meia faço isso, mas leio do meu jeito. Conto a história mais do que leio, e ele gosta. Sabe que é o livro da mãe chuva. Mas admito: o livro mora mesmo é na minha cabeceira.
A minha cópia, como contei, comprei em Portugal. Custa na faixa de 15 euros por lá. Ainda não tem edição brasileira, só encomendando da terrinha mesmo.
***
O José Luís Peixoto está aqui no Brasil, vejam só. Os lugares por onde vai passar estão no site dele. Estará falando sobre literatura portuguesa, e quem sabe fala d’A Mãe que Chovia. Uma pena que não vai passar por Curitiba!
***
Livro: A Mãe Que Chovia
Texto: José Luís Peixoto
Ilustrações: Daniel Silvestre da Silva
Editora: Quetzal (Portugal)