A Árvore das Lembranças, de Britta Teckentrup

Eu me emociono um bocado quando leio livros infantis que tratam sobre a morte – fico impressionada com a delicadeza e a beleza com que alguns conseguem tratar de assunto tão dolorido. Já falei do quanto foram importantes para o Francisco e também para mim superar a difícil perda do meu pai – e olha, seguem sendo! Volta e meia descubro um novo livro bonito sobre o assunto, é impressionante. Acho que é a época: percebemos o quanto é importante trazer o assunto também para os pequenos, não simplesmente tentar ocultar e omitir o sofrimento. E do jeito certo, com as palavras e as mediações necessárias, conversar sobre a morte e compreendê-la pode até amenizar a dor.

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“A Árvore das Lembranças” é muito mais do que um livro sobre a morte: é um livro sobre a vida, lembranças, sobre como podemos manter vivo quem amamos em nossa memória. A história se passa em uma floresta, e começa com a morte de uma raposa – que por si só já tem uma descrição que emociona:

“Ela levara uma vida longa e feliz, mas estava ficando cansada. Bem devagar, ela foi até seu cantinho favorito na clareira. Olhou para sua adorada floresta pela última vez e se deitou. Fechou os olhos, respirou fundo e caiu no sono para sempre.”

O primeiro animal que se dá conta é a coruja – fica triste, mas sabia que tinha chegado a hora da amiga. Pouco a pouco, outros amigos começam a chegar: o esquilo, o urso, o passarinho, o veado – todos se sentam em volta dela e começam a lembrar das coisas boas que viveram juntos. A coruja lembra de quando brincavam competindo para ver quem pegava mais folhas secas, o urso lembra da vez que a raposa tomou conta de seus filhotes, o esquilo recorda da vez que ela o ajudou a desenterrar nozes que no inverno anterior haviam ficado muito fundas na neve.

Enquanto conversam, saudosos, lembrando da raposa, uma plantinha brota exatamente onde a raposa ficou – lugar agora já encoberto pela neve. A cada história contada, a cada lembrança dividida, a planta brota mais forte e bonita. A pequena árvore que cresce faz os amigos entenderem que a raposa ainda está com eles: quanto mais se lembram, menor fica a dor da saudade. No final, árvore acaba crescendo tanto, mas tanto, que vira um grande abrigo pra todos os animais – e dá força para que todos sigam vivendo, com a amiga sempre viva em seus corações. 

Um livro lindo, tocante, que nos lembra da importância de celebrarmos a vida – e também de relembrar e manter viva a memória dos que já foram. Escrito e ilustrado por Britta Teckentrup, publicado pela editora Rovelle. 😉

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