As Mentiras de Paulinho

Deixa eu contar uma coisa engraçada: eu fui uma criança muito, muito mentirosa. Até aí tudo bem, toda criança mente, cria, e a gente sabe que isso faz até bem – até um certo ponto, lógico. Mas as mentiras que eu contava eram tão absurdas que juro, nem graça mais tinham. Acho eu, pelo menos – eu lembro de ser motivo de chacota da turma por contar umas mentiras do tipo que tinha um túnel da minha casa que ia até um shopping na cidade ou que eu era prima da Claudia Ohana (era época da novela Vamp, lembram?) e que um dia ainda ia aparecer com ela na escola. O povo me escutava e ria.

Eu era tão mentirosa que ganhei esse livro quando tinha uns 8, 9 anos. Foi uma brincadeira simpática: ganhei de uma tia querida (alô Tia Edite!) e logo virou meu livro de cabeceira, lógico. Esses dias resgatei ele para ler com o Francisco – e não é que o rapazinho curtiu pra caramba?

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O livro conta a história de Paulinho, um garoto mentiroso como eu era (porém mais criativo, diga-se de passagem). Paulinho vivia inventando histórias no condomínio onde morava – e o povo ria, se divertia com ele. Só quem não curtia era Seu Benedito, que sofria do fígado (juro) e era muito irritado. Mas o Paulinho nem dava bola – continuava contando as histórias:

“Em casa, Paulinho dizia para a mãe:

– Hoje, na escola, só houve aula de matemática. Tiveram de chamar a ambulância, porque um menino saiu vomitando números.”

 

Pra cada um ele contava uma mentira. Pra irmãzinha, pro pai, para o jardineiro da pracinha ele contava a minha mentira preferida:

” – Já vi uma rosa gigante, com gente morando dentro. De manhã saíam para trabalhar, como todo mundo, mas de noite voltavam para a rosa. Viviam mais de quinhentos anos e ninguém sabia por quê.”

 

No final, o Seu Benedito vai até o pai de Paulinho reclamar das mentiras. E o pai sugere que Seu Benedito experimente criar um pouco de histórias pra relaxar – e quem sabe até curar do fígado. Dito e feito: Seu Benedito termina o livro feliz, inventador de histórias e muito mais bem-humorado.

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O livro é da psicóloga Fernanda Lopes de Almeida, que tem diversos livros publicados no Brasil – incluindo todos da Coleção Passa Anel, da Editora Ática (da qual As Mentiras de Paulinho faz parte). Se quiser saber mais da obra dela, dá uma clicada aqui no site da editora. As ilustrações são bem divertidas e cheias de detalhes (que juro, eu lembrava todos!), e são do italiano Michele Iacocca.

A nossa edição é antiga, de 1987. Mas há novas edições, e olha, boa notícia: por ser um livro antigo, dá pra achar fácil em sebos por aí. Na Estante Virtual tem a partir de 9 reais!