O Coelhinho Que Dormiu de Tédio

Dia desses recebi em casa um livro que tem dado o que falar lá fora – o tal “O Coelhinho Que Queria Dormir”, escrito pelo terapeuta sueco Carl-Joahn Forssén Ehrlin. O motivo de tanto entusiasmo em torno dele é simples: o livro promete fazer toda e qualquer criança adormecer.

A princípio, torci o nariz: livros com finalidade me causam estranheza, e sinceramente, não acredito em fórmulas mágicas. Um livro que promete adormecer qualquer criança insone me soa tão falso quanto um chá emagrecedor ou ganhar dinheiro dormindo.

Mas eu quis, sim, dar uma chance. Afinal, o livro foi lançado de forma independente lá fora, logo virou febre na Inglaterra e nos Estados Unidos, e não demorou para que grandes editoras vissem aí uma fonte de lucrar muito. No Brasil, o livro foi recentemente lançado pela Companhia das Letras.

Vamos aos fatos: há algumas noites, me sentei para ler ao lado do Francisco, evitando que ele olhasse as ilustrações, exatamente como sugere o autor. Ele também orienta que as palavras em negrito sejam lidas com ênfase e as itálico de forma mais lenta. Também é importante citar o nome da criança insone onde é indicado e, pasmem, fingir bocejos em pontos específicos. Então lá fui eu.

Foi começar a leitura e sentir vergonha – por estar lendo aquela bobagem e por estar fazendo meu filho, que ouvia perplexo, acompanhar uma história que juro, não leva a lugar nenhum. O livro não tem nenhum valor literário, é muito mal escrito e tem uma história entediante e cansativa. Talvez por isso, de fato, funcione – é melhor dormir, e rápido, do que chegar ao final de um livro tão chato.

Basicamente, conta a história desse coelhinho, o Roger, que quer dormir mas não consegue. Então a mamãe leva ele ao Senhor dos Bocejos, que dá um pozinho mágico (e o autor orienta: “enquante lê, faça como se estivesse salpicando o pó sobre a criança”) que faz Roger dormir lindamente junto com todos seus irmãozinhos coelhos.

O Francisco, que gosta de curtir histórias longas (justamente para dormir mais tarde, ele acha que me engana!), ficou claramente inquieto com essa que não é nada além de repetição e tédio. Ou seja, o livro funcionou, mas ao contrário.

Para não ser de todo chata, as ilustrações da Silvana Rando são muito bonitinhas. Mas sério: melhor curtir ilustrações dela em livros com histórias muito mais bacanas, como Peppa, Gildo e o divertidíssimo Meu Vizinho é Chato Pra Cahorro, também publicado pela Companhia das Letras.

Vale investir os 20 reais (e os 20 minutos de leitura) que custa o livro em outro mais bacana – e tem tantos por aí! Para a hora de dormir, melhor apostar em livrinhos divertidos, que façam a imaginação voar longe – fazer valer esse momento tão importante. Curtir uma história que faça sonhar, algumas canções de ninar, carinho e aconchego. Essa deveria ser a fórmula. O coelhinho que me perdoe, mas aqui em casa ele não volta não.

ah, parece que com gatos funciona ;)
Ah, parece que com gatos funciona!

***

Para conhecer alguns livros para a hora de dormir que eu e o Francisco curtimos muito, clique aqui. 😉