Saiu! Os Melhores de 2017 Para Crianças de Todas as Idades

Demorou, mas saiu! A ideia, lógico, era lançar os melhores de 2017 no final do ano passado, mas quem disse que consegui? Férias escolares, minha gente, caos total. No final das contas foi ótimo porque pude aproveitar e fazer a seleção com todo carinho, lendo, relendo e redescobrindo os livros mais interessantes desse ano que passou. Livros de grandes editoras, de editoras menores e materiais independentes foram cuidadosamente curtidos por essa que vos fala e seus filhos – e eis aqui nossa seleção das publicações mais bacanas de 2017 (com vídeo e tudo, claro!).

1.VERMELHO DE DAR DÓ, de Cristiano Gouveia e Sônia Borges

Tenho um carinho especial por livros independentes, não adianta. Admiro o trabalho, o empenho e carinho que um trabalho independente exige – e quando resulta numa obra bacana então, aí me apaixono de vez! “Vermelho de Dar Dó” nasceu de um financiamento coletivo e faz uma muito divertida brincadeira com Chapeuzinho Vermelho. Aqui a história traz algumas mudanças e muita rima – quiprocó, curió, cafundó (e sim, um glossário no final para o caso de dúvidas). Uma delícia de se contar ou voz alta ou cantar – pois sim, o livro também é música! Junto dele vem um cd com a história cantada pelo autor (que também é músico, compositor e contador de histórias) Cristiano Gouveia. As ilustrações são da portuguesa Sônia Borges e dão um charme ainda mais especial ao livro – surpresa linda do ano que passou!

2.COM QUE ROUPA IREI PARA A FESTA DO REI?, de Tino Freitas e Ionit Zilberman

Livros que brincam com outros livros me encantam – e quando brincam com literatura, música, futebol e afins são ainda mais legais! Na mais recente obra do queridíssimo Tino Freitas a inspiração é o conto “A Roupa Nova do Rei”, de Andersen. Aqui, os animais são convidados para uma festa à fantasia, e o animal que aparecer com a mesma fantasia do rei ganhará um belo prêmio. Não há pistas sobre a fantasia do rei, apenas uma: ele vai fantasiado de outro rei! Começam os palpites, o alfaiate se desdobra para dar conta das fantasias…e surge rei do rock, rei do futebol, rei do tabuleiro! Repleto de referências pra lá de originais, lindas ilustrações com transparências, tecidos e costuras de Ionit Zilberman, o livro desperta a curiosidade das crianças e diverte do início ao fim!

3. PEQUENAS ARMADURAS, de Janaina Tokitaka

Eu confesso, sempre tive uma certa curiosidade mórbida por insetos. Mariposas, besouros, gafanhotos e seus movimentos erráticos me causam repulsa, mas também muita curiosidade – e como o fruto não cai muito longe do pé, fazem o mesmo com o Francisco. Acho que por isso o livro “Pequenas Criaturas” foi tão surpreendente – aqui, Janaina Tokitaka fala de cada um desses bichinhos através da poesia. Há poemas sobre a cigarra, a libélula, o cupim, a mosca…alguns mais longos, profundos, que falam dos bichos mas também de nós mesmos. Outros mais curtinhos, repletos de humor! As ilustrações são super diferentes – e em alguns momentos, os insetos parecem saltar das páginas, uia! Da OZé Editora.

4. BARBAZUL, de Anabella López

Barba Azul todo mundo já conhece: é o mais terrível dos personagens de Charles Perrault, o nobre que mata a esposa por sua curiosidade. Uma história que sempre me intrigou, me despertou medo e também…curiosidade. Pois “Barbazul” (assim mesmo, tudo junto) traz o conto adaptado e ilustrado por Anabella López – e juro, é de arrepiar! Especialmente interessante é que aqui a artista argentina toma a liberdade de inverter a moral criada por Perrault. O conto em si é o mesmo, mas o desfecho traz uma nova reflexão. Se para ele a curiosidade da protagonista é seu defeito maior, para Anabella é o que a liberta. Não sem antes aterroriza-la – e a nós, leitores também, vale dizer. Um livro assustador como uma boa história de terror deve ser – e também emocionante, uma comovente homenagem a mulheres vítimas de violência e opressão. Precisa dizer mais?

5. ROSA, de Odilon Moraes

Outro livro absolutamente surpreendente que me chegou às mãos no ano passado foi “Rosa”. Odilon Moraes começou os estudos dessa pequena jóia em 2005, quando descobriu que seria pai, mas só no ano passado o livro foi finalmente publicado. Inspirado no conto “A Terceira Margem do Rio”, de Guimarães Rosa, trata sobre a relação de um pai e um filho, e é emocionante. Emociona pelo texto, pelas ilustrações, pelo diálogo perfeitamente harmonioso entre os dois. Aqui fica muito claro o quanto um livro ilustrado pode ser surpreendente (e não só para as crianças) – é preciso ler texto, ler imagem, ler duas, três, muitas vezes. E em cada leitura surge algo novo! Mas emociona também, vale dizer, pelo capricho editorial, a lombada de tecido, o cuidado em cada detalhe da editora Olho de Vidro. É uma obra de arte tratada como tal, para ser descoberta e desvendada por todas as idades.

6. O PASSEIO, de Pablo Lugones e Alezandre Rampazo

Ô livro que mexeu comigo e com o Fran! “O Passeio” a história de uma garota e seu pai. Ela aprende a andar de bicicleta com ele, e juntos, começam um longo passeio. O passeio é a vida, e a metáfora emociona página a página: há momentos em que o pai toma a dianteira, em outros a distância entre eles aumenta…também há aqueles em que é preciso seguir solo. Há silêncios – respiros que as ilustrações de Alexandre Rampazo dão ao delicado texto de Pablo Lugones. Pai e filha passeiam, o tempo voa, anoitece. E “nem sempre se está preparado. De uma hora para outra, tudo pode mudar”: o pai não está mais ali, bicicleta vazia. Quando o coração aperta, quando vem mais uma vez o silêncio…vem também uma deliciosa continuidade, uma surpresa. O final é pura esperança e traz a certeza de que a aventura desse passeio deve sempre continuar. Com vento no rosto, distâncias necessárias e novas descobertas. Da Gato Leitor.

7. QUANDO VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI, de María Hergueta

Se (coincidentemente, vale dizer) os dois últimos livros tratam da relação entre pais, filhos e filhas, aqui a relação é entre irmãos. Uma relação com conflitos, tá certo – mas também com lindas descobertas. É um garoto quem começa dizendo: “eu gosto quando você não está aqui”. É que quando a irmã não está por perto, ele pode tudo: é o rei da casa, sobra muito mais espaço na grande cama, todas as coisas dela são dele. Mas a tão feliz solidão logo se transforma: afinal, sem ela ali, de quem ele vai se esconder? Em quem ele vai botar a culpa? Quem vai lhe contar histórias? É lindo como é ele próprio quem vai descobrindo que com a irmã é tudo mais divertido -muito mais do que um livro sobre a (às vezes nada fácil) relação entre irmãos, um livro sobre a descoberta da individualidade, da solidão, da saudade e das delícias de se compartilhar a vida!

8. AS AVENTURAS DE TOMMY, de H.G. Wells

Tá aí outra coisa que curto muito, ó: descobrir livros infantis de grandes autores, ou melhor, autores de gente grande! Sabe? Cortázar, Galeano, até a Sylvia Plath têm livros infantis absolutamente incríveis! Pois H.G. Wells, que escreveu muita ficção científica, como a Guerra dos Mundos, também escreveu o curioso “As Aventuras de Tommy”. Nesse livro a gente conhece um homem muito rico, muito metido à besta, que de tanto andar com o queixo levantado um dia cai num abismo dentro do mar. Ele é resgatado por um garoto muito gente boa – e decide que precisa lhe dar uma bela recompensa, de agradecimento. Mas tem que ser algo grandioso, caro…e lá sai ele atrás do tal presente. A história é super divertida, mas curioso é que o final…não existe! Pois é, coisa do H.G. Wells. Divertida também é a história por trás desse livro, contada pelo Eduardo Bueno no final. E a edição, minha gente: uma beleza! Da Piu Editora.

9. ADELAIDE, de Tomi Ungerer

Quem me acompanha aqui já me viu falar talvez umas 327 vezes do Tomi Ungerer. É um dos meus autores e ilustradores infantis preferidos e muito recentemente fiz até um especial sobre ele por aqui. Adelaide é certamente um dos seus livros mais bacanas e conta a história de uma canguru que nasce com asas. Muito cedo ela resolve partir e voar longe, conhecer o mundo. Faz amizade com um amigo piloto, descobre Paris, vira estrela de teatro, grande heróina…mil aventuras, emoções e ilustrações lindíssimas e o livro termina com uma importante mensagem sobre diferenças e aceitação. Não sei se já falei antes, mas Tomi Ungerer é o cara! Livro lançado nos anos 50 lá fora, editado aqui no Brasil pela Aletria com o capricho que ele merece!

10. PODE PEGAR!, de Janaina Tokitaka

Tá aí um assunto que anda muito na moda: gênero. E pra acompanhar toda essa discussão em torno dele é claro que vêm saindo muitos livros, especialmente infantis – alguns um tanto sem graça, bastante óbvios…mas outros legais demais! Tive a sorte de conhecer alguns desses no ano que passou, como o lindíssimo O Menino Perfeito, de Bernat Cormand. Mas escolhi o “Pode Pegar!” para a lista porque sinceramente, sou apaixonada pela simplicidade, pela leveza desse livro. Nele, dois coelhinhos brincam – e na brincadeira, vão trocando suas peças de roupa. O sapato de salto alto serve para ajudar a catar a maçã de uma árvore, as botas para pular o riacho, a saia vira a capa de um super-herói. Isso até chegar um coelho adulto muito ranzinza mandando a brincadeira parar – e se surpreendendo!

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